GESTÃO PÚBLICA NO ESPORTE: QUANDO A MÁ GESTÃO COMPROMETE O FUTURO

A administração pública e as políticas públicas são fundamentais para o funcionamento dos serviços públicos, mas, na prática, muitas vezes são confundidas. Enquanto a administração pública se refere ao conjunto de órgãos e agentes responsáveis pela gestão governamental, as políticas públicas consistem em estratégias e programas elaborados para solucionar problemas e atender às demandas da socieda. 

A conexão entre esses dois conceitos está na gestão, que planeja, organiza e supervisiona a implementação das políticas dentro da estrutura administrativa. 

Imagem da internet.

No esporte, assim como em outras áreas, uma administração pública ineficiente pode comprometer até as melhores políticas públicas. Em Balneário Camboriú, esse problema ficou evidente nos últimos anos, tanto em ações administrativas que impactaram o setor esportivo quanto, em alguns casos, em programas esportivos essenciais.

A lista de problemas é extensa. No entanto, para não me alongar, destacarei três ações esportivas que foram comprometidas por uma má administração:

1. Programa Maturidade Saudável – Criado para promover atividades físicas e pedagógicas para a população acima de 50 anos, o programa era uma parceria entre a Fundação de Esporte, a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Inclusão Social. Em 2011, chegou a registrar 8.848 atendimentos. Hoje, encontra-se à deriva, sem um consenso sobre qual órgão deve ser responsável por sua continuidade.

2. Programa Municipal Bolsa Atleta – Essa política pública é essencial para o desenvolvimento do esporte de rendimento. No entanto, passou um ciclo administrativo sem reajuste na sua dotação orçamentária. O Plano Plurianual de Balneário Camboriú (2022-2025), estabelecido pela Lei nº 4.683/2022, destinou R$ 1.000.000,00 anuais para o programa, totalizando R$ 4.000.000,00 no período. Apenas em fevereiro de 2025 houve um aumento de recursos, cumprindo uma promessa de campanha da atual prefeita. No entanto, será que os problemas administrativos e políticos foram realmente resolvidos? E por que não houve uma discussão prévia para ampliar a previsão orçamentária do FUNDESPORTEBC?

3. Fundo Municipal para Desenvolvimento do Esporte de Balneário Camboriú (FUNDESPORTEBC) – Criado para prestar apoio financeiro a programas e projetos esportivos, o fundo deveria ser o principal mecanismo de fomento ao esporte na cidade. Seus projetos passam por um processo transparente de análise e aprovação pelo Conselho Municipal de Esporte. No entanto, ele sofre com limitações financeiras e com a falta de prestígio por parte dos gestores públicos. Isso se evidencia quando recursos são destinados diretamente a eventos, sem passar pelo Conselho do Esporte, o que impede qualquer monitoramento ou avaliação do impacto desses investimentos na sociedade.

O professor Luiz Antônio Alves, conselheiro do Conselho Municipal de Esporte, destaca que, entre 2022 e 2024, cinquenta e sete projetos esportivos receberam R$ 1,42 milhão do FUNDESPORTEBC, enquanto apenas 14 eventos esportivos receberam R$ 8 milhões da Fundação.

Essa desigualdade na distribuição dos recursos financeiros prejudicou diretamente os projetos esportivos de base, que poderiam ter se beneficiado de um repasse mais equilibrado. Além disso, essa discrepância sugere um viés político na administração, favorecendo eventos que promovem a imagem do governo e interesses privados em detrimento do interesse público.

Diante desses desafios, fica evidente que uma gestão pública eficiente é essencial para transformar políticas públicas em ações concretas, evitando desperdícios e garantindo serviços de qualidade. Apenas com uma administração responsável e transparente, o esporte – e outras áreas fundamentais – poderá cumprir seu papel e impactar positivamente a população.

Compreender a relação entre administração, gestão e políticas públicas é essencial para a construção de uma cidade ativa e saudável, comprometida com o bem-estar de seus cidadãos.