“OFF THE KING, THE BEST, THE POWER…” E OFF TAMBÉM AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO ESPORTE

Nos últimos meses, a ascensão de um jovem “profeta da internet” chamou a atenção do país. Com apenas 15 anos, ele atrai multidões em cultos, promete curas milagrosas rasgando papéis e recebe doações que chegam a milhares de reais, tudo transmitido ao vivo para milhões de seguidores. O caso causou comoção e abriu debates sobre os limites entre fé, espetáculo e exploração simbólica da esperança popular.



Mas esse fenômeno não está restrito aos templos. Na administração pública, especialmente na área do esporte, vemos algo semelhante acontecer: políticos transformando a paixão esportiva da população em palco para visibilidade pessoal. Em vez de investir em políticas públicas estruturadas, muitos gestores assumem responsabilidades que deveriam estar com os clubes, associações e federações. Promovendo campeonatos, bancando equipes com recursos públicos e criando “heróis municipais” à imagem da própria gestão.

Essa apropriação institucional do esporte que deveria ser meio para inclusão, saúde e cidadania, transforma o que é público em pessoal. Assim como no espetáculo da fé, o esporte vira palanque: ações imediatistas, projetos de alto apelo midiático, mas pouca sustentabilidade. O objetivo não é desenvolver o esporte como política de Estado, mas capitalizar simpatia, votos e manchetes.

Enquanto isso, estruturas esportivas ficam abandonadas, profissionais desvalorizados e a população carente de acesso contínuo ao esporte em toda sua forma. A emoção está presente, os holofotes também. Mas as bases continuam frágeis, improvisadas e dependentes da vontade política do momento.

O que se vê, em ambos os casos, é a transformação da esperança em espetáculo, da necessidade em marketing. E quando a fé ou o esporte viram ferramentas de autopromoção, quem mais precisa continua esperando por verdadeiras políticas públicas e não por milagres.