A DUBAI BRASILEIRA E A FAVELA ESPORTIVA

Balneário Camboriú é conhecida pelo seu luxo, arranha-céus à beira-mar e pelo apelido de “Dubai Brasileira”. No entanto, ao analisarmos o cenário esportivo local entre 2017 e 2024, o contraste entre a grandiosidade da cidade e a realidade de quem busca desenvolver o esporte é evidente.

Ginásio de Esporte Governador Irineu Bornhausen (G1)

Durante esse período, o poder público priorizou o esporte de rendimento e os megaeventos, deixando em segundo plano o esporte de formação e o esporte para toda a vida. Segundo dados do Portal da Transparência da Prefeitura, em 2023, a Fundação Municipal de Esporte gastou R$ 150.667,05 com seis eventos de corrida de rua realizados na orla. Esses valores incluem taxas de homologação, aluguel de banheiros químicos, tendas, grades de isolamento e repasses do FundesporteBC. Ou seja, a Fundação arcou integralmente com os custos dos eventos. A pergunta que fica é: qual foi a contrapartida oferecida pelos promotores das corridas de rua?

Embora tragam visibilidade, esses eventos têm pouco impacto real na formação esportiva local, beneficiando, em sua maioria, atletas e empresas de fora. Enquanto isso, professores, projetos sociais e atletas da cidade enfrentavam dificuldades estruturais e financeiras, como falta de materiais, espaços adequados, apoio técnico e programas de formação.

O que deveria ser uma política pública voltada para a inclusão e formação cidadã tem se transformado em um palco de visibilidade política e negócio para poucos, onde os talentos locais têm pouca ou nenhuma oportunidade. A administração pública segue assumindo funções que deveriam caber ao setor privado, como organizar eventos, gerir o esporte de alto rendimento e financiar clubes, tratando-os como se fossem extensões do Estado. Esse modelo é ineficiente, excludente e vulnerável ao clientelismo, gerando baixo retorno social.

O poder público deve concentrar-se em seu papel estratégico:

  • Garantir infraestrutura esportiva acessível;
  • Oferecer programas de iniciação esportiva;
  • Estimular a prática esportiva em escolas e comunidades;
  • Apoiar projetos com impacto social;
  • Estabelecer parcerias com o setor privado, respeitando os limites e responsabilidades de cada parte.


Balneário Camboriú precisa ir além da imagem de vitrine e olhar com seriedade para quem realmente faz o esporte acontecer no dia a dia. É hora de equilibrar os investimentos, valorizar os talentos locais e construir uma política esportiva inclusiva, formativa e socialmente justa.

Se continuarmos promovendo a imagem de uma cidade modelo, apenas para oportunistas lucrarem com o esporte, sem investir na base e na inclusão, estaremos apenas reforçando uma “Dubai Brasileira” na fachada e uma verdadeira “favela esportiva” na essência.