FUTEBOL E POLÍTICA: UMA PARCERIA QUE CUSTA CARO AO CIDADÃO
A recente notícia de que a Prefeitura do Rio de Janeiro repassará R$ 1 milhão ao Flamengo para a disputa do Mundial de Clubes, e que o Governo do Estado também destinará valores semelhantes a Fluminense e Botafogo, levanta uma questão preocupante: até que ponto o poder público deve investir em clubes de futebol profissional? Sou flamenguista apaixonado, mas é preciso distinguir emoção de razão.
O futebol é um fenômeno cultural relevante, mas os recursos públicos deveriam estar voltados à saúde, educação, segurança e mobilidade. Áreas em que tanto o município quanto o estado do Rio de Janeiro enfrentam problemas crônicos.
Enquanto isso, os clubes cariocas registraram receitas expressivas em 2024, mas também enfrentam dívidas significativas, incluindo pendências com o setor público. O Flamengo arrecadou R$ 1,334 bilhão, mas sua dívida líquida saltou para R$ 505 milhões. O Fluminense faturou R$ 684,2 milhões, enquanto sua dívida total subiu para R$ 865 milhões, com R$ 65 milhões apenas em tributos parcelados. O Botafogo projetou R$ 1,107 bilhão em receitas para 2025, mas encerrou 2024 com R$ 1,210 bilhão em dívidas, incluindo R$ 147 milhões em débitos tributários.
Esses dados evidenciam que, apesar das receitas milionárias, os clubes acumulam compromissos elevados, o que reforça a necessidade de uma gestão mais responsável e transparente, especialmente quando se considera o uso de dinheiro público para apoiar instituições privadas.
Alguns poderão comparar com eventos como o show da Lady Gaga, realizado gratuitamente ao público e com investimento exclusivamente privado. Diferente do Mundial de Clubes, que envolve venda de ingressos, direitos de transmissão e patrocínios, trata-se essencialmente um evento comercial. O mesmo padrão se repete em outras cidades.
Recentemente, clubes da região de Balneário Camboriú utilizaram a infraestrutura pública da cidade sem nenhuma contrapartida ao desenvolvimento esportivo local. Um uso oportunista do espaço público, que pouco contribui para o esporte de base ou inclusão social.
O Futebol pode até ser considerado uma paixão nacional, mas também é uma construção comercial.
Cabe ao poder público priorizar políticas esportivas voltadas à maioria da população, promovendo o esporte como ferramenta de inclusão, desenvolvimento social e não, como vitrine para interesses políticos ou comerciais.